sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Cristina Kirchner deixa o poder depois de 12 anos


Aguerrida e indomável, Cristina Kirchner deixa o poder após 12 anos de um projeto iniciado por seu falecido marido e que representou uma ruptura na história política da argentina com o ressurgimento da reivindicação social.

Na última década, as políticas sociais foram mais de esquerda e na economia de defesa de um capitalismo de Estado.
Com um discurso soberanista, reivindicou as Ilhas Malvinas - que a Argentina disputa com a Grã-Bretanha -, e lutou com unhas e dentes contra os "abutres", os fundos especulativos dos Estados Unidos.
A presidente está convencida de que, junto ao falecido marido Néstor Kirchner (2003-2007), liderou uma "renovação patriótica", enfrentando poderosos donos de meios de comunicação, juízes e empresários.
Progresso para alguns, decadência para outros, Cristina Kirchner entregará, aos 62 anos, a Casa Rosada no dia 10 de dezembro ao vencedor das eleições de domingo, mas com certeza deixa uma marca indelével.
"Esta transformação não se deterá porque Daniel será presidente", afirmou Kirchner ao lado de Daniel Scioli, o candidato da governista Frente para a Vitória (FpV, peronista e aliados).
Scioli é visto como um político mais à direita da chefe de Estado. MasKirchner, com personalidade implacável, olhou em seus olhos e desafiou, ante seguidores: "Você vai aprofundar esse processo".
Na diplomacia, a presidente defendeu a aproximação do chamado eixo bolivariano, proposto pelo falecido presidente venezuelano Hugo Chávez, cortando assim os laços Buenos Aires com a Europa e dos Estados Unidos nos anos 1990, quando liderava o presidente peronista de direita Carlos Menem.
Cristina Kirchner ficou viúva em 2010. Seus dois filhos, Máximo e Florencia, a transformaram em avó.
A advogada exibe uma cabeleira ruiva e está sempre impecável. "Eu me pinto desde os 15 anos. Adoro ser mulher!", afirma. Católica, se fez íntima do Papa Francisco e deixaram para trás as divergências de quando Jorge Bergoglio era arcebispo de Buenos Aires.
Acusações de corrupção mancharam seu vice-presidente Amado Boudou e alcançaram seu filho Máximo e empresários amigos.
Os tribunais acumulam mais de 700 denúncias de corrupção, incluindo quase 300 contra ela. Porém, Kirchner as qualifica de "falácias" e mantém batalhas judiciais contra juízes, apesar de ter buscado uma justiça independente.
O enriquecimento pessoal dos Kirchner em mais de 928% entre 2003 e 2010, segundo sua declaração fiscal, gera indignação e indiferença na mesma medida. "Há tolerância para a corrupção", disse à AFP o consultor Juan Germano de Isomía.
Seu estilo combativo é carregado de retórica peronista lastreada pela justiça social. "Honra ao peronismo, com os direitos aos pobres e a reconstrução da indústria", afirma à AFP a sobrinha-neta de Eva Perón, Cristina Álvarez Rodríguez.
"Não deixem que roubem novamente seu futuro", costumam dizer os jovens que a adoram em comícios. Criou a La Cámpora, movimento estudantil dirigido pelo primogênito Máximo.
As ajudas sociais e a defesa dos direitos humanos asseguram a Sciole 30% dos votos kirchneristas. Porém, o que fará Cristina no futuro? Voltará em 2019? Ela deixa a presidência com uma popularidade de mais de 50%, segundo pesquisas.
"Ela não terminará seus dias cortando rosas ou cuidando dos neto", garantiu seu chefe de Gabinete, Aníbal Fernández. (AFP)

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