segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O Enem manda dizer: a educação urge por qualidade


Por *Cláudia Santa Rosa
Não faz muito tempo, uma jornalista me indagou: “é seguro avaliar, a partir do Enem, quais escolas reúnem condições para oferecer uma educação de boa qualidade, ou seja, as notas do Enem podem servir como parâmetro de qualidade para uma família escolher a escola do filho?”

Sem rodeios respondi que o Enem pode até servir como parâmetro de qualidade, mas sozinho não dá conta. Embora tenha aumentado a participação, trata-se de um exame voluntário. É preciso que os pais fiquem atentos, por exemplo, ao percentual de adesão dos estudantes da escola que tem interesse, pois se for abaixo de 90% em minha opinião é bastante questionável. Todavia, isso não diminui a sua importância, sobretudo para os jovens que participam e para as escolas, individualmente.
Por outro lado, através do Enem, ciente dos históricos dos alunos que fizeram as provas, a escola tem a possibilidade de verificar os resultados dos processos de ensino e aprendizagem que conduz, considerando uma matriz de competências e habilidades aplicadas para todo país.
É necessário não perdermos de vista que primeiro o Enem informa sobre a qualidade da formação que o participante experimentou ao longo de toda educação básica - educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Caso o participante tenha percorrido várias escolas, resultados positivos ou negativos são compartilhados entre essas escolas, especialmente aquelas dos últimos sete ou oito anos.
Segundo, os resultados do Enem têm muito a dizer sobre a capacidade das escolas de contemplarem nos seus currículos e projetos político-pedagógicos as competências e habilidades consideradas nas elaborações das provas do Enem, bem como a didática adotada na execução de tal currículo.
Por fim, atentarmos para o fato de que as escolas posicionadas com médias baixas devem avaliar quais são as causas das suas dificuldades e buscar as soluções. Nisso inclui reverem os seus currículos para garantir o aprendizado dos alunos, inclusive das competências e habilidades presentes em exames como o Enem.
A educação brasileira carece de qualidade. Isso é fato! As redes de ensino, especialmente estatais, comemoram resultados positivos nas chamadas “ilhas de excelência”, escolas com desempenhos mais próximos do desejável, enquanto a maioria patina imersa em dificuldades de atender as necessidades de aprendizagens dos seus estudantes.
Exames como o Enem explicitam o tamanho do desafio que o Brasil tem pela frente para oferecer educação de qualidade para toda população. Resguardada uma ou outra exceção, a distância é expressiva entre os resultados alcançados por escolas particulares e federais, em relação às das redes estaduais. Do mesmo modo, o Enem revela desigualdades regionais: as médias das escolas das regiões Norte e Nordeste continuam muito abaixo das demais regiões do país.
Quando confrontados os resultados do Enem com outras avaliações oficiais como a Prova Brasil e o PISA, bem como analisados juntos com dados como os de frequência e evasão escolar, repetência, anos de escolaridade, analfabetismo absoluto da população e analfabetismo funcional, constatamos que a educação brasileira é muito ruim.
Os rankings das escolas sempre consideram a última que o participante estudou, mas atentemos: uma formação de excelência envolve anos de estudos. Decididamente, o Enem tem nos dito que as escolas precisam ser competentes.
*Professora, especialista em Psicopedagogia, Mestre e Doutora em Educação. Diretora Executiva do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE) e Coordenadora do “Esquina do Conhecimento, projeto pedagógico da Escola Estadual Manoel Dantas. É articulista de temas relativos à Educação e no ano de 2014 passou a publicar, também, minicontos de amor, crônicas e poemas que são tentativas de incursão pelo universo do texto literário. (educadora@claudiasantarosa.com)
Fonte: Marcelo Abdon

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