sábado, 1 de agosto de 2015

Sílvio santos reestrutura negócios e prepara sua sucessão

Uma das diversas anedotas contadas em torno da figura do empresário e apresentador de tevê Silvio Santosdiz que, por volta dos 12 anos, um de seus passatempos favoritos era assistir a filmes e seriados na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, sem pagar a entrada, indo na contramão de quem deixava a apresentação anterior. Certo dia, ao acordar com febre, foi proibido por sua mãe de sair de casa. Silvio, que ainda atendia apenas por seu nome de batismo, Senor Abravanel, chorou e implorou para poder ir.

No dia seguinte, ficou sabendo que um incêndio na sala de cinema deixara diversas crianças feridas. A história mostra dois aspectos da personalidade do mais conhecido empreendedor do Brasil. A primeira delas é a sua estrela. “Deus me deu muita sorte”, costuma dizer. A segunda é a dificuldade para resignar-se a não fazer o que deseja. Foi assim que construiu a sua carreira, sendo levado pelas oportunidades e por seus desejos, desde que começou, aos 14 anos, a trabalhar como camelô nas ruas do Rio de Janeiro, onde nasceu, em 1930.
Foi assim também que começou a sua carreira como locutor de rádio, vendedor de anúncios e apresentador de tevê. Ele até se lançou candidato à Presidência da República, em 1989. Mas, a partir de agora, Silvio precisará praticar o desapego de seus negócios cada vez mais. O grupo Silvio Santos, que sempre comandou de forma centralizadora, contratou a consultoria americana McKinsey. Oficialmente, é apenas para uma reestruturação da gestão, com a formação de um conselho de administração, composto pelas seis filhas de Silvio e mais três consultores independentes.
Mas a iniciativa indica claramente uma preparação do conglomerado para uma sucessão, e há rumores de que Silvio irá se aposentar em janeiro de 2016, logo depois de completar 85 anos, tanto de suas atividades de “entertainer” quanto de gestor. Para as duas atividades, as sete mulheres que o cercam – incluindo também a esposa Íris – foram preparadas para sucedê-lo. Aos poucos, cada uma delas foi sendo direcionada para uma área com a qual demonstrasse afinidade. No caso do entretenimento, algumas das filhas parecem estar à frente.
A filha número quatro, como o próprio pai costuma numerar, Patrícia Abravanel, de 35 anos, apresenta há cinco anos programas no SBT, depois de ter trabalhado no banco PanAmericano e ajudado na criação do hotel Sofitel Jequitimar, no Guarujá, no litoral de São Paulo. Ela foi a primeira a receber de seu pai a designação de sucessora, em declaração ao vivo, na televisão. “Quando completarmos o jubileu de ouro, ela estará aqui no meu lugar”, disse Silvio, na comemoração dos 25 anos do SBT, em 2009.
Já Silvia Abravanel, a número dois, comanda o núcleo infantil do SBT e virou apresentadora, em julho deste ano, depois que as crianças que comandavam o programa matutino Bom Dia & Cia foram impedidas de trabalhar por decisão judicial. Mas quem parece estar mais próxima de comandar os negócios em sua nova fase é a mais nova de todas, Renata Abravanel, 29 anos, a número 6, vice-presidente do grupo. Essa indicação é mais forte porque além de Silvio Santos, também o atual presidente do grupo, Guilherme Stoliar não deverá ter assento no conselho a ser criado.
“Meu pai tem essa mania de jogar a gente na fogueira”, disse recentemente Cintia, a primogênita, que foi responsável pelo Centro Cultural Silvio Santos e pelas atividades teatrais, descontinuadas em 2011. Há dúvidas, no entanto, de como elas podem se sair ao substituírem alguém que nunca teve par na história da tevê e até mesmo dos negócios no Brasil. Silvio não apenas criou a terceira maior emissora do País em audiência, o SBT, com faturamento de R$ 1,1 bilhão, como cerca de duas dezenas de empresas – que vão de cosméticos, imóveis e capitalização e faturam mais de R$ 5 bilhões por ano.
Um dos pioneiros da previdência privada no Brasil, criou concessionárias de automóveis e uma empresa de informática. Faz atualmente sucesso com a Tele Sena, da sua empresa de capitalização Liderança Capitalização, que tem ativos de R$ 877 milhões, e com a Jequiti, que ameaça a Natura no comércio porta a porta. “A sucessão é um processo muito delicado, principalmentena primeira geração, porque há todo o histórico do envolvimento do fundador e dos funcionários com ele”, diz Helena Magalhães, especialista de sucessão da consultoria People Oriented.
“Às vezes, a empresa é o filho mais fiel à imagem do empreendedor.” Um dos seus poucos fracassos em sua trajetória empresarial aconteceu com o banco PanAmericano, que surpreendeu o mercado, em 2010, com um rombo de R$ 4,3 bilhões. Silvio disse também ter sido pego de surpresa e colocou todas as suas empresas como garantia da dívida. Safou-se do problema ao vender 51% das ações para o BTG Pactual, por R$ 450 milhões, e ceder o restante para a Caixa. (Isto é Dinheiro)

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