Por * Vera Vilela
Morei no bairro Petrópolis, em Natal, durante a minha infância e adolescência. Foi naquela época que me tornei leitora, explorando a nossa biblioteca particular comprada por meu pai, de uma pessoa que estava se desfazendo de seus livros (e que livros!), conquista que só foi possível graças a um dinheiro extra, desses que muito raramente cai na conta do funcionário público, corrigindo algum erro.
Li e reli aqueles livros, começando por uns poucos infantis e depois me aventurando nos clássicos nacionais e estrangeiros. Lembro-me de uma coleção de capa dura verde de um romance canadense, o primeiro tinha o seguinte título: O despertar de Jalna, através dos livros seguintes era possível acompanhar os personagens, através de várias gerações... Era um dos meus favoritos, época que conheci o Canadá, sem ao menos ter que sair de casa, através dos relatos minuciosos das histórias.
Depois a minha fome de livros aumentou e eu quis conhecer outras obras e foi aí que descobri a Biblioteca Câmara Cascudo, bem perto de minha casa. Logo descobri que era possível fazer uma carteirinha e pegar livros emprestados.
A parte térrea da biblioteca tinha uma sala enorme para exposições e algumas salas que só funcionários podiam entrar. No andar de cima, funcionava a biblioteca, com estantes enormes com livros grossos e pesados, voltados à pesquisa, que muitas vezes auxiliaram nos meus trabalhos escolares. Tinha também muitas mesas e poltronas.
Os livros literários não eram vistos. Para consegui-los dirigíamo-nos a um tipo de móvel com minúsculas gavetinhas, cada uma com uma letra do alfabeto. Em cima do móvel tinha a identificação “título” e em outro “autor”, Se a opção fosse, por exemplo, escolher o livro por título, bastava escolher uma letra para ter acesso a listagem de todos os livros literários daquela biblioteca, cujo títulos iniciavam por aquela letra...
O mais fascinante para mim era o que se seguia, depois de colocar em uma ficha o nome do livro escolhido, levava para um canto da Biblioteca onde tinha um balcão, um pouco alto demais, pois precisava ficar na ponta dos pés para não perder a mágica daquele momento. A ficha era colocada em um tipo de elevador manual, depois de tocar uma sineta, alguém do andar térreo puxava esse elevador com o pedido e após o som da sineta vindo do térreo, o livro surgia. O meu coração esperava aos pulos, doida para conhecer o ilustre desconhecido que escolhera baseada apenas em um nome que chamara a atenção. Aos poucos, passei a apreciar alguns escritores e passei a escolher os livros de sua autoria.
Levava o livro para casa e antes de começar a ler, o livro era examinado por meu pai para determinar se era apropriado ou não para a minha idade. “O Cortiço” foi um dos censurados, tive que devolver sem ao menos ler... Só bem mais tarde li essa obra.
Eu era feliz e não sabia!
*Professora da rede pública.
Do Blog: A professora Cláudia Santa Rosa há mais de 1 ano publica, aos domingos, os seus artigos no Blog e hoje, em caráter excepcional, pediu para que fosse publicado o artigo da professora Vera Vilela. No próximo domingo, Cláudia retorna a ocupar o espaço.
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