sexta-feira, 26 de junho de 2015

Ah! Se eu tivesse asas ou leve como o vento


(Parte II – Multiplicidade - Visibilidade)
Por *José de Castro
MULTIPLICIDADE
[...] quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis.” (CALVINO, 1990, p 138)

Um educador consistente não tem nenhum receio de se aventurar pelos inúmeros caminhos que se apresentam à sua frente no desempenho das tarefas de orientador de aprendizagem, de pesquisador, de guia. Múltiplas são as teorias, inúmeras são as ferramentas e várias são as abordagens e as metodologias que podem ser empregadas para favorecer o processo de ensino-aprendizagem. Múltiplas são as dúvidas e as indagações que o mundo do saber lhe apresenta como desafios. Qual é o melhor ponto de partida para se disparar um processo de investigação consequente? Como incentivar a leitura prazerosa? Diversos são os caminhos: temas geradores, contextualização, interdisciplinaridade, aprendizagem significativa, aprendizagem colaborativa, construção de competências, pesquisa, avaliação mediadora, teoria e prática, ação/reflexão, para citar apenas alguns dos ingredientes que fazem parte do mundo de um educador. Todos os caminhos adotados podem ser múltiplos de si mesmo e formarem um imenso caleidoscópio que precisa guardar coerência e assegurar, mesmo na diversidade, a consistência necessária ao educador competente, aquele que acredita nas múltiplas possibilidades de descoberta que o seu aluno poderá fazer para construir o seu conhecimento. Esses alunos, que também são múltiplos; de várias idades, que trazem diversas experiências de vida; de diversas áreas da atividade humana, que estão ansiosos para descobrir e reinventar o mundo; esse mundo de milhares de faces, habitado por milhões de seres humanos. Como diz Calvino, cada vida é uma enciclopédia. Resta ao educador seguir o conselho poético de Cecília Meireles: “Multiplica os teus olhos, para verem mais [...] Destrói os olhos que tiverem visto./Cria outros para as visões novas.” (MEIRELES, 1982, Cântico XIII)
Esses olhares multiplicados poderão descortinar novos horizontes com mais acuidade: visualização, visibilidade, o próximo passo da escalada.
VISIBILIDADE
Penso numa possível pedagogia da imaginação que nos habitue a controlar a própria visão interior sem sufocá-la e sem, por outro lado, deixá-la cair num confuso e passageiro fantasiar, mas permitindo que as imagens se cristalizem numa forma bem definida, memorável, auto-suficiente, "icástica" (CALVINO, 1990, p. 108)
Esta é uma civilização da palavra, mas também da imagem. Calvino, em sua obra As cidades Invisíveis (1990) utiliza-se da palavra para descrever os cenários mais fantásticos, imaginativos e improváveis. Cidades duplas, cidades emaranhadas em cordas, cidades-reflexo uma da outra, habitantes inusitados, seres múltiplos, idiossincráticos. Essa riqueza de imaginação é a capacidade de visualização de novos mundos. Os educadores precisam estimular sua própria capacidade imaginativa criadora.
Sem visão, sem imaginação, o mundo seria árido e vazio. Construir o mundo que se pensa, realizar o sonho que se imagina, passo a passo, com determinação e alegre compromisso. Perseguir metas, imaginar utopias. Com isso, é possível reinventar o mundo.
Um educador consistente, de múltiplos saberes, enciclopédico e ao mesmo tempo não ortodoxo, haverá de cultivar em si e buscará emular em seus educandos essa capacidade de imaginar novas possibilidades de ler o mundo, de fazer projeções, de abrir os olhos para visões novas, criativas, inventivas, plenas de interpretações que possibilitem a ressignificação do mundo.
Essa imaginação criadora, conforme Calvino, não deverá cair no “passageiro fantasiar”, mas haverá de permitir que a fantasia, o sonho, a imaginação sejam lugares dentro dos quais caia uma chuva imaginativa, uma tempestade cerebral. Lugares onde criatividade, fantasia e imaginação funcionem como fertilizantes do mundo pedagógico, fazendo germinar o conhecimento exato, necessário ao mundo contemporâneo, a busca de certezas dentro de tantas incertezas desse mundo. A imaginação criadora pode emular e valorizar a exatidão pedagógica demandada pelas necessidades da construção do conhecimento, de maneira lúdica e prazerosa.
(continua na próxima semana com os 3 temas finais: Exatidão, Rapidez e Leveza)
*José de Castro, escritor e poeta. Mestre em Tecnologia da Educação. Autor de livros infantis (A marreca de Rebeca, O mundo em minhas mãos, Poemares, Poetrix, Dicionário Engraçado, A cozinha da Maria Farinha). Membro da União Brasileira de Escritores – UBE/RN. Contato: josedecastro9@gmail.com.
Fonte: Marcelo Abdon

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