segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

EDITORIAL – Alcaçuz:o limite entre a realidade e a ficção, a notícia e o boato

A barbárie de presos da Penitenciária de Alcaçuz ocorrido no último fim de semana provocou mais do que um noticiário a respeito do gravíssimo quadro de decomposição do sistema prisional potiguar e brasileiro.

Abarrotado de homicidas, traficantes, assaltantes e estupradores e tomado por facções rivais que controlam o crime nas ruas mesmo com seus líderes tecnicamente presos, o sistema prisional virou motivo para um confronto entre realidade e ficção, notícia e boato, fato e versão.
O caso do número de mortes causadas pelo confronto entre as facções PCC e Sindicato do Crime, em Alcaçuz no fim de semana, é emblemático para mostrar a guerra da informação ou da desinformação que toma conta das redes sociais em momentos como estes que ainda estamos vivendo.
Até o início da manhã desta segunda-feira, o número de mortos confirmados era de 26. Número que pode aumentar com a realização de novas buscas dentro do presídio e um pente-fino por parte dos agentes penitenciários e peritos.
E por que a demora na confirmação de mortos?
Simplesmente porque o presídio virou um terreno minado. Com pavilhões seriamente depredados em rebeliões anteriores e com presos perigosos circulando à vontade dentro de algumas áreas do que deveria ser uma penitenciária de segurança máxima, recolher e contar mortos não é uma tarefa fácil.
Quando as notícias sobre o motim se confirmaram, os veículos de comunicação montaram suas equipes de cobertura e o público começou a buscar informações. Com a avidez e a morbidez próprias dos que consomem notícias sobre tragédias e desgraças.
Ao final da rebelião, nenhum agente público saiu ferido. Não há confirmação de fugas. Mas tem gente que ainda não se contenta em saber que há confirmação de 26 mortos.  Tem gente que queria mais. Quer mais. Mais tragédia, mais mortos, mais barbaridade. Sentimento ate compreensível devido à total falta de segurança que vivemos no BRASIL.
E para estas pessoas de nada adianta ter a palavra oficial do governo do estado, do secretário de segurança pública, do secretário de Justiça, do diretor do presídio, dos agentes penitenciários, dos peritos, dos comandantes da operação policial que controlou a rebelião ou mesmo do juiz responsável pelas execuções penais.
No aplicativo WhatsApp, a insatisfação de muitos, que não aceitam que uma rebelião tenha originado “apenas” 26 mortes, deu lugar a uma onda de boatos, de versões e de especulações que apontam que o número de mortos seria bem maior do que o divulgado pelas fontes oficiais.
Para os adeptos de muitas mortes, e repito, compreensível, as autoridades públicas estariam mascarando os números, escondendo a verdade.
E onde estariam os corpos? Com que objetivo o governo, as autoridades e os seus agentes de segurança fariam tal operação?
Onde e como esconder pelo menos 80 corpos que alguns insistem em dizer que existem?
A palavra de “um agente que ninguém sabe que existe vale, de uma especialista em moda vale, de um promotor de meio ambiente vale”, mas de quem está vivendo a situação parece que não.
Que o número de mortos pode ser superior a 26 isto é perfeitamente possível. Somente as investigações e novas procuras no esgoto do presidio poderão apontar o número verdadeiro.
O confronto entre realidade e ficção, entre notícia e boato, fato e versão – bem próprio de crises e momentos de tragédia, é compreensível. E inevitável.
Mas precisa ter limite.
O limite que separa a verdade da mentira.


Blog do BG

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